LARANJA MECÂNICA

 




APRESENTAÇÃO

Olá amigas e amigos! Eu sou Wellington Lisboa, jornalista, publicitário e crítico de Cinema. Dando continuidade a uma recordação de criança e espero que se recordem (BLADE RUNNER e TOMATES VERDES FRITOS), retorno ao tema distopia, também debatido no primeiro episódio discorrido (BLADER RUNNER). Para quem não se lembra, distopia significa referência a um lugar, época ou estado imaginário em que se vive, sob condições de extrema opressão, desespero ou privação. Geralmente são caracterizadas por totalitarismo ou autoritarismo, por anarquia ou, por condições econômicas, populacionais ou ambientais degradadas ou levadas a um extremo.


FILME 

E o filme desta vez e sob a direção do espetacular Stanley Kubrick é LARANJA MECÂNICA. Começaremos pela direção cinematográfica! Stanley Kubrick é uma das lendas de Hollywood. Nascido em Nova York, no dia 26 de julho de 1928, Kubrick foi escolhido o oitavo maior cineasta de todos os tempos, segundo pesquisas realizadas em 2002 pelo British Film Institute e pela revista Sight & Sound. Ele tinha uma personalidade bastante perfeccionista, encarregando-se de quase todos os níveis de filmagem, tais como, roteiro, edição, além da própria direção. Em seu currículo estão os filmes SPARTACUS (1960), LOLITA (1962), 2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO (1968), O ILUMINADO (1980) e o último filme, DE OLHOS BEM FECHADOS (1999), lançado um pouco antes de sua morte, 07 de março de 1999. LARANJA MECÂNICA foi lançado em 1971 pela distribuidora Warner Bros, e baseou-se no romance homônimo, escrito por Anthony Burgess (A Clockwork Orange) e publicado em 1962.





A história se passa em um Inglaterra futurista, e ao mesmo diatópica e autoritária. Seguindo a tradução literal do livro/filme, A Clockwork Orange, significa "Laranja com Mecanismo de Relógio", ou seja, a distopia entra como uma pseudo realidade, onde tudo é projetado, preconcebido, programatizado, premeditado. Segundo o crítico literário Warley Rodrigues Belo, em seu artigo escrito em 2008 sobre este filme (consultem este link) , o mesmo defende a premissa, a qual, o filme "possui um clima amedrontado e atormentado que nos leva a muitas perguntas temáticas na moderna Criminologia. Se possível, como a violência poderá ser erradicada da nossa sociedade moderna? Por que gangues se formam e têm comportamentos extremamente violentos? Poderá, o Estado, privar um indivíduo da sua livre vontade, transformando-o em um robô (ou um animal) que admite programação (ou adestramento) mental? O que isso significa ao analisarmos as tecnologias de modificação de comportamento de castigo contra o crime?"

Vocês sabiam que, quando a houve a promoção do livro, mais uma vez, em 1962, o último capítulo não foi publicado, como aconteceu no texto original, nos Estados Unidos? Segundo palavras de Warley Belo, "... o presidente da Editora, insistiu que o livro perdesse seu capítulo final. Por que? Não nos pergunte! Não encontramos a resposta. Burgess concordou com esse procedimento, mas 'não fiquei contente', pois, 'tinha estruturado o trabalho com muito cuidado. Havia dividido em três seções de sete capítulos cada, figura numérica essa que, em numerologia tradicional, significava o símbolo da maturidade humana', explicou Burgess a um londrino'

No mínimo, incomum a história. Alex termina o capítulo 20, na edição americana, com a seguinte declaração: 'eu estava certo que tinha me curado'. Ou seja, se 'estava' era porque não continuava... As edições americanas e europeias são essencialmente diferentes. Tem mais: Kubrick não teve notícias desse capítulo à tempo. A versão que lhe chegou às mãos era a americana, sem o capítulo 21, e, mesmo o filme tendo sido realizado na Inglaterra, só veio a descobrir o 'capítulo fantasma' após o término do trabalho cinematográfico. Nada muito relevante para Kubrick que se disse satisfeito com o final da versão americana e que não mudaria . No capítulo final (capítulo 21 ou capítulo 7 da parte III), Alex aparece com mais idade, renuncia seus modos violentos, se casa e tem crianças. Torna-se assim, um 'indivíduo produtivo' à sociedade. Em linguagem simples, a versão dos americanos transformou o romance em ficção e modificou, radicalmente a concepção sobre behaviorismo...". Para os que não se recordam sobre o termo behaviorismo, consultem este link .

Stanley Kubrick retrata uma Inglaterra extremamente violenta. E esta brutalidade física e, também, moral é representada pela personagem Alexander Delarge ou, Alex, um jovem de aparente classe média. Afora o hábito de ouvir e ser um verdadeiro fã de Beethoven, o protagonista tinha como amigos e seus cúmplices, Georgie, Dim, e Pete. Essas personagens foram interpretadas pelos atores, respectivamente, Malcolm McDowell, James Marcus, Warren Clarke e Michael Tam.

Warren Clarke (Dim) e James Marcus (Georgie)

Malcolm McDowell (Alex)

A película começa com a turma de Alex espancando um senhor idoso, pelo simples fato do mesmo estar bêbado, acreditem. O verdadeiro motivo desta prática foi pelo motivo do velho ter debochado do grupo e das críticas feitas por ele, a respeito de uma sociedade amplamente discriminatória, onde, poucos tinham muito e muitos tinham pouco, fora, a falta de respeito para com os mais velhos. Logo em seguida, os quatro rapazes chegam a uma casa, onde residiam um casal, os Alexander. Alex, com o pretexto de utilizar o telefone do casal para uma emergência, toca a campainha. A Srª Alexander, desconfiada, oscila entre abrir ou não a porta. O seu esposo permite e a senhora abre. É o bastante para Alex e a facção invadirem a casa e começar a "sessão de gentilezas".

A Srª Alexander é segurada violentamente pelos parceiros, enquanto Alex a acaricia. Depois, o protagonista atira o Sr. Alexander ao chão e o agride. Pensam que acabou? Estão redondamente enganados. Marido e mulher são amordaçados e o Sr. Alexander é testemunha de uma cena estúpida, ou seja, o estupro da esposa. Alex e seus comparsas voltam para as suas casas, como se nada tivesse acontecido. Na manhã seguinte, sua mãe o acorda para que ele vá ao colégio. Alegando não passar bem, Alex consegue enganar a sua genitora. De forma surpreendente, ele recebe  visita de uma espécie de assistente social, quando este o alerta que em uma próxima saída, ele poderá ser preso. É evidente que este senhor se referia à noite anterior.
Alex tinha um lado bastante ditador mediante ao grupo, garantindo com isso a sua liderança. À noite, ele parte com sua turma para um tipo de spa. Ao chegar neste local, a dona do estabelecimento o recebe e rapidamente é assassinada por Alex.

REAL COMEÇO

Agora, o filme começa, realmente. Após descoberto o assassinato, Alexander Delarge ou, para os íntimos, Alex, é preso, julgado e condenado por seus crimes. Mas o império britânico, através de um dos seus ministros, quer implementar uma técnica de subordinação psicológica, chamada Técnica Ludovico. Esta técnica consiste em assistir cenas de brutalidade, claro, sob o efeito de drogas prescritas. Esses cenários apresentados, são fundamentados em assaltos, estupros e crimes de morte. Essa proposta é levada à Alex para que o mesmo tenha a pena reduzida.
Com isso, o paciente absorve uma sensação de incapacidade de praticar tais atos. Seria uma experiência de quase morte ou, praticamente, beirando o suicídio. E é exatamente o que Alex faz mas, claro, não consegue. E como bem diz o ditado popular, "o que aqui se faz, aqui se paga", isto é, todos os personagens a quem ele ameaçou ou executou em ação de violência, voltam-se contra ele, a começar pelos seus amigos.






DEBATE SOBRE A NOSSA SOCIEDADE    

Lançado há quase 50 anos, LARANJA MECÂNICA é de uma contemporaneidade impressionante. Ele debate questões da violência juvenil e, também, gratuita, sem motivo aparente. Na passagem em que o personagem Alex e a sua turma espancam um mendigo, este último diz uma frase peculiar, "não quero viver mesmo, não em um mundo como esse". Perceberam o concreto existindo entre nós, mas sob a visão dos anos 70, com o filme lançado, e dos anos 60, quando o livro foi publicado? Impressionante, não é verdade?
Não sendo aqui jamais moralista, mas a inversão de valores foi amplamente formalizada. Como escreve a Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes, pela Universidade do Porto (Portugal), Carolina Marcello, o "desejo de violência e caos" é inerente (leiam este link). E entra o meu questionamento! Estamos ou não vivendo este massacre? Quando Alex está na prisão, há que se fomentar a reflexão sobre um tema bastante polemizado, porém esquecido, que é a extrema lotação nas penitenciárias brasileiras e, principalmente, a forma como os presidiários são tratados. A prova desta realidade está em uma cena, quando Alex é preso e barbaramente espancado pelos policiais. Algo diferente em nossa realidade?


A distopia, como explicado no episódio BLADE RUNNER, acontece também em LARANJA MECÂNICA, em outras palavras, estamos em um mundo sem lei e sem ordem (mais uma vez, sem provocar discussões políticas e morais), o qual, somente o mais forte vence.

Espero que tenham gostado! Por favor, divulguem e compartilhem entre os seus amigos, e também, este podcast. Gostaria e quero, muito, a participação de todos! Deixem os seus comentários, críticas e sugestões aqui embaixo, ok. Aguardem o próximo número e mudanças neste site. 

Abraço forte e beijo grande no coração de vocês!

Wellington Lisboa™ - 2020 



Comentários

  1. Parabéns Wellington! Mais uma reflexão, crítica e análise perfeita sobre uma cinematografia icônica. Porém, o áudio do podcast está com muitos ruídos, claro que em nada desqualificou o contexto. Até a próxima, e esperamos ansiosos por um filme brazuca, rs. Afrobeijos!

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