Olá, amigas e amigos! Eu sou Wellington Lisboa, jornalista, publicitário e crítico de Cinema e apresento aqui, mais um número, mais um texto e podcast sobre filmes cult e clássicos.
Desta vez, ou melhor, dando continuidade ao tema "relações humanas", venho aqui com um filme, no mínimo curioso. Sob a direção de Hal Ashby, ENSINA-ME À VIVER traz a sombria relação entre uma senhora idosa, de 79 anos e um jovem de 20 anos. Ashby traz em sua carreira, filmes como A ÚLTIMA MISSÃO (1973), AMARGO REGRESSO (1978) e MUITO ALÉM DO JARDIM (1979). Este diretor nasceu em 02 de setembro de 1929 e faleceu em 27 de dezembro de 1988.
Hal Ashby
FILME
Retornando à temática, preciso antes de mais nada informar que, ENSINA-ME À VIVER é um filme baseado no roteiro de Collin Higgins e, depois, publicado como romance em 1971. Lançado pela distribuidora Paramount Pictures, no Brasil, houve uma peça de teatro com o mesmo nome e encenada por duas vezes. A primeira, na década de 80, tendo como atriz principal a então "Dama do Teatro Brasileiro", Henriette Morineau (1908-1990) junto com Diogo Vilela e sob a direção de Domingos de Oliveira. E a segunda vez, encabeçada por Glória Menezes e Arlindo Lopes e com direção de João Falcão.
A história pareceu bizarra para muitos, pois, ela tinha fortes tons de humor negro e adiantado show de dicotomias (contrariedades), explicado mais ao final do texto. A mesma conta o enredo das personagens -título do filme Harold e (and) Maude, interpretados pelos atores Ruth Gordon e Bud Cort.
Certamente, todos já viram e ouviram falar sobre o símbolo chinês YIN YANG, ou seja, o símbolo da dualidade. Em outras palavras, branco e preto, água e fogo, gordo e magro, bonito e feio, masculino e feminino, contudo deixando claro antes, a licença poética em cada uma dessas ambiguidades e ENSINA-ME À VIVER representa exatamente isto, a interpretação de duas personagens e com este antagonismo.
Harold (Bud Cort) é a morte e Maude (Ruth Gordon) é a vida, sendo simples e direto. Ao mesmo tempo, é uma verdadeira lição de vida, pois, para a psicóloga Patrícia Simone de Araújo Santos, em seu artigo escrito em 2011, "O contraste é a marca principal do filme. Afinal, a abordagem da vida e da morte é feita de uma maneira diferente, apresentando comicamente o drama psicológico através do relacionamento entre gerações, normalmente conflitantes. Maude acredita que pode lhe mostrar seu direito à liberdade, tão prejudicado pelo autoritarismo alheio. A rebeldia de Harold é demonstrada por sua hilária obsessão pela morbidez e morte. Impregnando-se de um inconfundível humor-negro, o jovem termina por fazer coisas inusitadas".
Como escrito antes, ele tem uma bizarra compulsão pela morte. Harold já tentou o suicídio (ou simulou) por 15 vezes, vai a funerais, além de ter um carro funerário (qualquer semelhança com a família Adams é mera coincidência) para se locomover. Orfão de pai e com uma mãe socialite completamente fútil, este rapaz é de família rica e bastante tradicional. As ações de Harold que comete são exclusivamente para chamar a atenção, conseguindo com isso, a irritabilidade de sua mãe, quando esta não dá a menor atenção ao filho.
Maude é absolutamente o seu oposto. Seguindo a definição da personagem, escrita por Dulce Toledo, para a Revista Veja, a senhora austríaca se define desta forma, "...80 anos é a idade ideal para morrer - 75 é ainda muito jovem e 85 é perda de tempo". Ela acredita que a vida, sem redundância, deve ser vivida dia a dia por inteiro, sem restrições, sem tristezas. Vive uma vida cheia de significado e faz suas escolhas deliberadamente".
Ruth Gordon
Bud Cort
Ruth Gordon e Bud Cort
Os atos depressivos de Harold deixam claro o seu único motivo: sua mãe. Conforme a declaração de Amanda Aouad, doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas, pela UFBA, "...Harold conta para Maude da primeira vez em que 'morreu', nem precisa das sessões de psicanálise do garoto para entendê-lo profundamente. Sua essência, seu drama, suas necessidades. Não por acaso, ele se envolve e se apaixona por uma mulher que tem idade para ser sua avó. Mas, não é por causa do Complexo de Édipo como supõe o psicanalista. Mas, porque ela foi a única pessoa que realmente enxergou e lhe mostrou outro lado...".
ASSUNTOS DELICADOS
ENSINA-ME À VIVER debate assuntos, para a época em que o filme foi lançado e atualmente, delicados. O paradigma já começa com uma senhora de 79 anos, que muitos acreditam até hoje e seguindo a tradução do título do filme, ensinando a vida e a viver. Ela quebra regras, dogmas impostos por nossa sociedade. Maude, mal parafraseando outro filme, passa o tempo que lhe resta "curtindo a vida adoidado". Ela pilota motocicleta, dirige carro (e o rouba, também), tem uma verdadeira fascinação por flores, enfim, nos mostra que o ser humano deve viver de forma acentuada a cada dia, como se na verdade, fosse o último. Mais uma vez, se em pleno século XXI este assunto ainda causa um certo (sendo muito otimista no adjetivo) escândalo, imaginem então, no início da década de 70?
E quando ela toma a decisão de casar com Harold? Se hoje em dia, uma mulher, digamos, mais madura, isto é, por volta dos seus 40 anos e bem resolvida profissionalmente, estabelece uma relação com um homem mais novo, vislumbrem uma senhora à beira dos 80 anos? O diretor Hal Ashby, de forma muito bem humorada, nos leva à reflexão sobre o sentido da vida, ou melhor, a que valores paradigmáticos nos prendemos a ela, sem esquecer que o amor não há divisão, tão pouco separação.
Este filme não foi muito aceito pela crítica especializada à época, mas recebeu uma segunda chance quando ele foi reeditado na Broadway e aqui no Brasil, como escrito acima, em uma versão encenada pela grande Henriette Maurineau e, sem trocadilho e redundância, pela gloriosa Glória Menezes. Bud Cort, antes de aceitar esta personagem, pediu conselhos ao grande diretor Robert Altman (M*A*S*H*, 1970; O Perigoso Adeus, 1973; Nashville, 1975; Shorts Cuts - Cenas da Vida, 1993 e Assassinato em Gosford Park, 2001), quando ainda escalavam o elenco de Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's, 1975), dirigido por Milos Forman, Altman o aconselhou para que pensasse muito antes de interpretar a personagem, para que Bud Cort não ficasse marcado por interpretar personagens, com ou sem as aspas, loucos. O papel ficou com o ator, uma outra lenda de Hollywood, Jack Nicholson.
Robert Altman
Espero que tenham gostado! Aguardo opiniões, sugestões e críticas de todos, acessando o espaço abaixo. E as mudanças neste site já começaram, tímidas ainda, mas já significam algo mais importante daqui para frente, como por exemplo, sempre colocarei o trailer de cada filme que eu abordar, sendo que, não ficaram somente nisso. Beijo grande no coração de todos!
APRESENTAÇÃO Olá, amigas e amigos! Eu sou Wellington Lisboa e apresento aqui mais um texto sobre filmes cults. Tudo legal com vocês, mesmo em tempos de pandemia? E a respeito deste desagradável assunto e com quarentena obrigatória, vocês estão assistindo filmes, não importa o estilo, em suas casas? Aguardo o retorno de todos! BAGDAD CAFE - FILME Mais uma vez, recordam-se quando eu escrevi nos textos anteriores, sobre uma passagem de minha pré-adolescência e transformava os coleguinhas de colégio em atores e atrizes famosos e os jogava em meus enredos de ficção, contando histórias fantásticas? Muito bem! O filme que iremos abordar, que por sinal está neste podcast , me faz lembrar uma grande amiga, que passou por história bem semelhante, tal e qual como as duas protagonistas, melhor, protagonista e antagonista. E o filme desta vez é, BAGDAD CAFE . Veja também: TOMATES VERDES FRITOS Lançado em 1989, esta produção alemã, com o nome original "Out of Rosenheim" , cu...
APRESENTAÇÃO Olá amigas e amigos! Eu sou Wellington Lisboa, jornalista, publicitário e crítico de Cinema. Dando continuidade a uma recordação de criança e espero que se recordem ( BLADE RUNNER e TOMATES VERDES FRITOS ), retorno ao tema distopia, também debatido no primeiro episódio discorrido (BLADER RUNNER). Para quem não se lembra, distopia significa referência a um lugar, época ou estado imaginário em que se vive, sob condições de extrema opressão, desespero ou privação. Geralmente são caracterizadas por totalitarismo ou autoritarismo, por anarquia ou, por condições econômicas, populacionais ou ambientais degradadas ou levadas a um extremo. FILME E o filme desta vez e sob a direção do espetacular Stanley Kubrick é LARANJA MECÂNICA . Começaremos pela direção cinematográfica! Stanley Kubrick é uma das lendas de Hollywood. Nascido em Nova York, no dia 26 de julho de 1928, Kubrick foi escolhido o oitavo maior cineasta de todos os tempos, segundo pesquisas realizadas em 20...
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